Voltando
ao habitual, aproveito para escrever aqui as minhas impressões sobre
esse protesto ocorrido aqui em Recife contra o aumento das passagens
de ônibus, no dia 20-06. Por se tratar de um relato sobre a minha
experiência, então aceitem isso como algo parcial, pífio e
limitado. Perdi o timing porque acabei escrevendo demais e não tive tempo pra fazer tudo em um só golpe como gostaria, mas tá aí.
Bem:
ao sair de casa, sigo para o ponto de ônibus como de rotina, e lá
encontro algumas pessoas devidamente paramentadas para o protesto:
cartazes, "carinhas-pintadas" e algumas vuvuzelas.
Legal, pensei comigo mesmo.
Passou
o primeiro ônibus que levaria ao ponto de concentração, e apenas
eu dei o sinal para parada.
Achei estranho, mas, ok.
Teria
sido o único a subir, não fossem colegiais, que também queriam
seguir para o protesto.
Mas
antes das garotas subirem, a conversa:
-
Motorista, esse é o ônibus que leva para o protesto?
-
Protesto? Não! Esse ônibus faz o mesmo roteiro de todos os dias.
Sei de protesto não.
-
E qual o ônibus que leva para o protesto?
Pensei
de novo comigo mesmo: Elas não sabem pra onde o ônibus estava indo,
nem onde seria a concentração. O motorista também não fazia
ideia. Elas não me pareciam (julgo) ter hábito de pegar um ônibus.
Ele (julgo) não estava informado do que estava acontecendo no mundo.
Ri sozinho e divaguei um pouco: Elas imaginavam que o Governo havia
criado uma linha especial... Mas isso só acontece no Carnaval.
Cortei
o assunto e disse pra elas que podiam subir, que o ônibus passaria
por lá. Reticentes, elas subiram. Seguimos para a Praça do Derby.
As ruas muito tranquilas me indicavam que alguma coisa estava
acontecendo, mas que para mim estava dentro do esperado, afinal de
contas, no evento criado no Facebook haviam mais de 100.000 pessoas
confirmando participação.
Ri
sozinho enquanto lembrava o quão maravilhoso é andar ônibus a essa hora da tarde
sem ter que enfrentar engarrafamentos! Parecia até feriado!
Normalmente em feriadões a cidade fica livre e os ônibus vazios,
mas como tinha muita gente paramentada no ônibus, estava me sentindo
num dia de Carnaval. O
ônibus seguiu até metade do caminho. Tivemos que completar o resto
do percurso a pé, porque as vias estavam fechadas. Assim como eu,
muitas outras pessoas estavam seguindo o mesmo percurso. No caminho
outras mais foram se chegando e em pouco tempo já éramos uma
multidão. No caminho, pessoas com caras pintadas, cartazes
levantados e algumas palavras de ordem. Não havia ao longo do
trajeto nenhum bloqueio policial, mas os caras-pintadas já ensaiavam
um coro pedindo a não-violência, com a mesma entonação (incluindo
o sotaque) das imagens que chegavam dos protestos de São Paulo.
Achei estranho e aquele sotaque forçado, mas, beleza! Ponderei que esse talvez fosse um dos efeitos colaterais da globalização.
Chegando
à Praça do Derby, vi muita gente! Mas muita gente mesmo! Nem
acreditava que seriam tantas pessoas assim, e por um momento pensei
na força que todo esse pessoal organizado poderia realizar.
Mas esse pensamento não foi muito longe.
Pessoas
se abraçando, registrando os encontros e tirando fotos ao lado da
bandeira nacional, pintando cartazes e retocando a guache verde e
amarela para dali a pouco, iniciarem a marcha rumo ao centro da
cidade.
Encontrei alguns amigos, trocamos ideias a respeito do movimento e concordamos que apesar dos tropeços, deveríamos estar ali para vivenciar aquilo tudo e depois transformar isso em reflexões. Isso aqui está longe de uma reflexão no sentido rigoroso do processo, mas já indica o que venho pensando. Iniciamos a marcha rumo ao centro. A multidão - já ensaiada - entoava o Hino Nacional (mas apenas a primeira parte) e o de praxe “Sou brasileiro”. Mas até aí, nada. Ao meu redor, um ambiente confortável até demais para um protesto. Pessoas sorridentes, mais fotos. Gente bonita, elegante e sincera, curtindo aquilo tudo numa relax, numa tranquila e numa boa.
Como alguns medias disseram depois, parecia mais um desfile cívico.
Encontrei alguns amigos, trocamos ideias a respeito do movimento e concordamos que apesar dos tropeços, deveríamos estar ali para vivenciar aquilo tudo e depois transformar isso em reflexões. Isso aqui está longe de uma reflexão no sentido rigoroso do processo, mas já indica o que venho pensando. Iniciamos a marcha rumo ao centro. A multidão - já ensaiada - entoava o Hino Nacional (mas apenas a primeira parte) e o de praxe “Sou brasileiro”. Mas até aí, nada. Ao meu redor, um ambiente confortável até demais para um protesto. Pessoas sorridentes, mais fotos. Gente bonita, elegante e sincera, curtindo aquilo tudo numa relax, numa tranquila e numa boa.
Conversando
com meu amigo, vimos que aquela camada social mais acidentada e
vulnerável não estava ali. Ele me falou que mais cedo perguntou a
um flanelinha se ele não entraria no manifesto, e ele respondeu
secamente que aproveitaria o movimento para trabalhar mais e
conseguir um trocado extra, porque estava com fome e precisava comer.
Que a classe média historicamente tenha sido o pivô das
transformações, isso é fato. Mas esse ímpeto de mudanças eu
sinceramente não conseguia perceber. Precisávamos sair urgentemente dali.
E no
caminho, mais demonstrações parciais de amor à pátria.
Vi pessoas na sacada de seus apartamentos observando a movimentação e filmando. Placas levantavam com os dizeres #VemPraRua e a multidão gritava em uníssono esse convite, gentilmente declinado pela platéia. Em cima do muro, jovens bronzeados de bermudão, óculos escuros e munidos de latas de cerveja cortejavam as meninas, que gentilmente declinavam. Tudo com muita civilidade e respeito, num ambiente bastante democrático. Clean, soft e light.
Digo parciais porque o Hino nunca seguia até o final.
Vi pessoas na sacada de seus apartamentos observando a movimentação e filmando. Placas levantavam com os dizeres #VemPraRua e a multidão gritava em uníssono esse convite, gentilmente declinado pela platéia. Em cima do muro, jovens bronzeados de bermudão, óculos escuros e munidos de latas de cerveja cortejavam as meninas, que gentilmente declinavam. Tudo com muita civilidade e respeito, num ambiente bastante democrático. Clean, soft e light.
Em
plena Avenida, ouvi um levante. Gritos na multidão desenfreados,
aparentando ser um confronto com a polícia. Não era nada de mais: Fizeram uma ola,
como dessas que se veem nos estádios e nas micaretas.
Definitivamente, estava em plena “festa da democracia”, como
alguns jornalistas costumam se referir ao período eleitoral. Era uma festa
mesmo, puro entretenimento.
Não era um protesto para ser levado a sério.Tanto que a polícia nem teve trabalho. Também não desejaria que tivesse, mas é que eu não via a indignação no rosto das pessoas como normalmente se vê num protesto. Afinal de contas, estávamos na rua pelo quê? Não havia clima de revolta, tampouco desobediência civil. Estava tudo muito pacífico, e aí quero salientar que existem muitas sutilezas entre o pacifismo e o passivismo. Por favor não confundam!
Vi
que a coisa foi toda muito bem projetada, pasteurizada e embalada a vácuo.
Na página do evento do Facebook, muitas enquetes foram lançadas,
das quais destaco algumas: “Qual
a cor da roupa que devemos ir?” “Que
música devemos cantar lá?” “Quais
as nossas principais reivindicações?” “E
se chover?” “O
que fazer se a polícia agir com violência?” “Pra
onde devemos ir?” “O
que fazer com as bandeiras dos partidos políticos?”
Apesar das superficialidades, aquele aglomerado me fez sentir uma força descomunal, produzida por aquela energia de multidão. Senti a força que existe e reside no povo, que embora esteja anestesiado, possui. Essa energia que indica uma força, demonstrada a todo momento nas bandeiras agitadas e em cartazes com dizeres como #OGiganteAcordou.
Pra mim, a coisa toda já deu o que tinha que dar, mas como precisava de ônibus para voltar para casa, precisava seguir até o Cais de Santa Rita. Para minha surpresa, na Pracinha do Diário ouvi as primeiras manifestações pelo Passe Livre. Para que vocês tenham uma noção do tanto que eu andei na passeata, fiz um mapinha, destacando o que achei relevante.
Aí eu pergunto: Como levar a sério uma multidão que diz que "saiu do Facebook para entrar para História" e na sua revolução se utiliza de virais de montadora de carro e de fábrica de uísque?
Pra mim, a coisa toda já deu o que tinha que dar, mas como precisava de ônibus para voltar para casa, precisava seguir até o Cais de Santa Rita. Para minha surpresa, na Pracinha do Diário ouvi as primeiras manifestações pelo Passe Livre. Para que vocês tenham uma noção do tanto que eu andei na passeata, fiz um mapinha, destacando o que achei relevante.
Depois disso tudo, fui para o Terminal de ônibus para poder voltar pra casa. E lá vi baterem o último prego do caixão. Dessa vez mais duas meninas, agora retornando do protesto para suas casas.
- Ei! Residencial Boa Viagem! Será que esse passa no shopping?
- Passa sim.
- E quanto é a passagem?
- Ei! Residencial Boa Viagem! Será que esse passa no shopping?
- Passa sim.
- E quanto é a passagem?
Falam de uma primavera brasileira, mas, meus amigos, estamos em pleno outono, e possivelmente caminhando para um longo inverno, com suas chuvas torrenciais. Falta muita luz pra essa juventude desabrochar e realizar uma verdadeira primavera.
Não adianta jogar carbureto, porque essas bananas não vão amadurecer assim.
Fala Tom Zé!
UPDATE 1
UPDATE 1
Não sou o único desconfiado: Estamos brincando de revolução
Nenhum comentário:
Postar um comentário